Durante muito tempo me questionei sobre este assunto: porque
é que durante os jogos se insulta os árbitros? Claro que a resposta parece
obvia, se não estão a fazer um bom trabalho, o que manda a tradição, é mandar
uns a tua mãe é uma fruta, vai para o carvalho, vai-te comer, e coisas do género. Isso é o que manda a tradição, e foi isso que
vimos daquele senhor, três cadeiras abaixo de nós no estádio, desde sempre
fazer.
Mas racionalmente não faz muito sentido. Pensemos em
conjunto: chamar filho de uma pura ao arbitro não lhe faz ganhar mais apreço
pelo nosso clube. Muito pelo contrario, se um estadio inteiro me estivesse a
insultar, confesso que ainda mais o prejudicaria. Só para chatear. Os árbitros não
têm medo do que é que podem encontrar lá fora, eles sabem que não lhes acontece
nada, e dizerem-lhes certas palavras, ao fim de não sei quantos anos de
carreira, já só faz comichão. E o que é se faz a uma comichão? Coça-se. Não
interessa se depois vai fazer pior, mas coça-se inconsciente ou
conscientemente.
Que tal começarmos a dizer “és lindo”, “amo-te”, “oh benquerença
faz-me um filho”, talvez assim se chegue a cair nas boas graças dos rapazes e
comecem a favorecer a equipa quando aquilo não estiver a correr bem. E que eu
saiba, graxa não é corrupção, e sai bem mais barato.
Foi nos estádios que aprendemos as maiores asneiras, as
melhores bocas e as mais refinadas palavras insultuosas, e é ali onde todos se
sentem à vontade para insultar até a mãe do melhor amigo do clube visitante que
decidiu, sabe-se lá porquê, vir ver o jogo com a nossa companhia. É um must, por muito que se chegue a conclusão
que racional não o é.
A verdade, é que não sei o que seria das minhas idas aos estádios
(todos menos o de Alvalade, porque era o único ao qual o meu pai benfiquista se
recusava a levar-me), sem a minha figura paterna a tapar-me os ouvidos cada vez
que havia uma falta ou um lance duvidoso.
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